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Mais de 1 milhão de crianças foram mortas pelos nazistas durante a 2a. Guerra Mundial!


Não   deixem  de  assistir o   filme  "o   menino   do pijama listrado"

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HOLOCAUSTO

Mais  de  6  milhões  de judeus   morreram  nos campos  de  extermínio nazistas e nas câmaras de gás.

OS SOBREVIVENTES


Rio de Janeiro, dezembro de 1975. Do hospital psiquiátrico da Praia Vermelha, descortina-se uma das vistas mais belas da cidade. O Pão de Açúcar e o Morro da Urca se banham na placidez das águas da Baía de Guanabara. Também visíveis os iates e barquinhos do Iate Clube, flutuando à mercê da maré, seus mastros parecendo pêndulos.

Lá dentro, porém, a visão não é nem de longe tão agradável. Os internos andam de um lado para o outro sem maiores perspectivas, cruzando-se no seu périplo sem destino. Ou haverá algum? De vez em quando cruzam com os médicos e enfermeiros, atentos a qualquer sinal de surto de algum deles. Gritos, correrias, alguns rastejando como se fossem cobras, eis o espetáculo que nos é oferecido continuamente.

Aproxima-se o final de ano e, como de costume, a festa de encerramento, quando o salão de conferência se transforma em teatro, circo, picadeiro e outros elementos cênicos que os artistas e seus criadores possam imaginar para dar vazão à suas “loucuras performáticas”. Parentes e amigos chegados constituem a platéia, além dos médicos, enfermeiros e funcionários do manicômio.

Quase não há ensaios porque os “artistas” gostam de improvisar o tempo todo e dar vazão à sua criatividade, deixando escapar, graças à sua total falta de auto-crítica, toda essa veia cênica. Viram palhaços, acrobatas, atores, músicos, cantores, poetas, declamadores. Os cenários, pintados e montados por eles e os efeitos especiais são muito esmerados. Pergunta-se se toda essa gente deveria continuar “presa” num regime tão sufocante ou deveria-se repensar essa questão. A festa de encerramento do ano é uma espécie de “liberdade condicional”, mas sem condições, pois ela se encerra logo após o show.

Dia 29 de dezembro. Cartazes do lado de fora do hospital anunciam a festa de fim de ano e seu horário. As paredes externas levaram uma demão de pintura e as internas foram limpas pelos próprios internos. Este é o grande dia.

Vão chegando os parentes e amigos, todos revistados, como se aquela instituição fosse uma prisão de alto risco e sentando na sala do espetáculo. A turma de branco vai se acomodando e, finalmente, acendem-se as luzes da ribalta. Uma voz ao microfone vai anunciando, um a um, os números apresentados, seus intérpretes, arranjadores e responsáveis.

Um dos pontos altos do show daquele dia foi o do Alexandre, o Alex. Ele entrou em cena vestindo um uniforme parecido com o do Chaplin em “O ditador”, mas chutando dois balões de encher, um com o desenho de menina e outro de menino. Os dois balões levavam uma fita adesiva amarela na qual estava escrita a palavra “Jude”. E ele se diverte e diverte a platéia com essa pantomima, chutando as bolas cada vez mais alto.

 E aí entra no palco uma mulher trazendo uma bengala prateada e ele começa a bater nos balões com a bengala como se estivesse jogando golf. Ele fazia tantas caretas, ria, chorava e gritava numa língua totalmente estranha, tudo tão grotesco que a platéia não conseguia parar de rir. E ele encerrava essa parte do seu número apontando a bengala, que agora havia virado uma espingarda ou metralhadora, para todos os que estavam assistindo e gritando “ta ta ra ta ra ta ta” onomatopaicamente. Debaixo de aplausos a cortina fechava para reabrir após uns dois minutos.

O Alex estava vestido de mágico e, com sua ajudante, tirava coelhos da cartola, cortava-lhe a cabeça, para ela reaparecer no meio do público e muitos outros truques, que pareciam ter sido ensaiados milhares de vezes. Ele pegava num violino e começava a tocar “A yidishe mame”, enquanto a ajudante fazia de conta que estava balançando um neném. No último número de sua apresentação ele aparecia vestido com um macacão listrado de preto e branco e fazia umas acrobacias e palhaçadas. As crianças presentes subiam no palco para abraçar Alex que dava um pedaço de pão para cada uma, ao som de “Papiroski”.

Naquele dia encontrava-se na platéia uma médica psiquiatra, recém admitida, Dra. Débora Fichman que, ao assitir ao Alex, começou a chorar, as lágrimas escorriam pela sua face e por mais que tentasse disfarçar, não o conseguia. Logo após a apresentação de Alex, ela se levantou e foi ao seu encontro nos bastidores. “Sasha, foi dizendo, é você, não é?” Ele deu um pulo para trás, perguntando quem ela era e dizendo que não conhecia nenhum Sasha. “Sasha, sou eu, Debie”. E tirou de dentro da bolsa um retrato bem antigo, já meio roto, onde apareciam um menino e uma menina fantasiados, um grupo de soldados da SS à esquerda e, ao fundo uma parede com uma porta dizendo “Chuveiros”.

Ao ver a foto Alex começou a chorar copiosamente e a abraçar Débora. “Não é possível. Não é possível. Debie, Debie, oi Debie”. E ficaram abraçados durante um longo tempo.
E Debie então contou para ele que era Dra. Débora e prometeu que íria curá-lo, que o tiraria para sempre do manicômio.
Treblinka, abril de 1943. O trem faz a sua parada final e as portas se abrem. De dentro, tal como gado, saem centenas, milhares de pessoas, entre crianças, mulheres, homens e velhos. Cada um com a sua maleta, contendo tudo que restou de suas posses nas suas cidades de origem. E saem empurrados por soldados com chicotes, acelerando seus passos. Alguns tropeçam e caem e são chicoteados até se levantar.

Os que não conseguem são mortos a tiros, no ato. Sasha, de 11 anos, e seus pais caminham em fila indiana ate que são separados por uma seleção feita pelos oficiais da “SS”. “Você para cá, você para lá”, crianças separadas de seus pais, mulheres de um lado, homens de outro, velhos separados também. Enquanto estão na fila vêem filas de pessoas totalmente nuas entrando por uma minúscula porta, com letreiro dizendo “chuveiros”.

De lá só sairão corpos inertes. Sasha, um garoto sapeca, sempre fazendo traquinagens na escola, dançando e representando, sai da fila e começa a fazer cambalhotas, anda como Carlitos, canta e dança, faz imitações dos próprios nazistas e faz tantas palhaçadas que os oficiais nazistas começam a rir. Um deles se levanta e pega o garoto e o coloca no meio do pátio dizendo para ele “entreter” aqueles que estavam indo para os “chuveiros”. Naquele momento ele vê, um pouco mais atrás na fila dos que desembarcaram, uma garota loura de olhos azuis e diz para o oficial: “aquela ali é a minha ajudante nos truques e mágicas que faço”. E ela também é separada da fila para que possa entreter os “condenados”. Todo dia, a fila de judeus nus é formada com o mesmo destino. E lá estão, como num picadeiro, naquele lamaçal, Sasha e Debie, a menina que é sua “ajudante”.

E os dias, semanas e meses foram se passando. Um dia Sasha assistiu seus próprios pais indo para o “abatedouro” e, no meio do espetáculo que realizava, com os oficiais rindo, ele não podia chorar. E silenciou, emudeceu de vez. Quem cantava era Debie, que também apresentava o espetáculo. Ele dançava, fazia suas acrobacias e palhaçadas mas não conseguia mais dizer uma só palavra.
Os alemães, diante da aproximação das forças aliadas, abandonaram o campo de Treblinka e as tropas do exército vermelho russo ocuparam a cidade. Sasha foi enviado para Kiev, para uma instituição psiquiátrica e Debie para uma escola interna em Praga. Ambos estavam órfãos e sem família.

Sasha levou dois anos para recuperar a fala, mas não conseguia mais voltar a ser uma criança como as outras. Tinha virado um adulto aos 13 anos. Um adulto doente, depressivo e inconseqüente.
No dia do reencontro de Sasha e Debie, no Rio de Janeiro, ele tinha 43 anos e ela 42. Ela tinha se casado aos 20 anos na Áustria e ficou viúva dois anos mais tarde. Ingressou então na famosa escola de medicina de Viena onde, anos antes, Freud lecionara, e se formou em medicina com especialidade em psiquiatria.

Dois dias depois do reencontro, ela levou Sasha para o galpão de uma escola de samba, onde estavam ensaiando os passos e cantarolando um samba-enredo e foi aí, pela primeira vez desde o campo, que Sasha viu uma alegria genuína, verdadeira, sincera. Ele se interessou muito pela coreografia e pelos carros alegóricos que estavam sendo edificados. Foi recebido com muito carinho e, depois que Debie falou das aptidões dele, foi convidado a integrar a equipe responsável pelo seu desfile. Nos primeiros dias Debie ia com ele, depois ele passou a ir sozinho. E retornava à noite para o manicômio. Mas, em pouco tempo, a equipe médica do hospital concordou que ele já não precisava mais daquela instituição.

Ele estava curado. Já demonstrava alegria e era muito participativo, com idéias brilhantes. Com o que ele passou a ganhar na escola de samba, alugou um pequeno apartamento e recomeçou uma vida normal. Saiam os dois, de vez em quando, para ir a um cinema, jantar, teatro e concerto. Aos poucos o seu relacionamento se estreitou e um ano depois resolveram partilhar uma vida comum. Ele continuou naquela escola de samba e uns cinco anos depois sugeriu que o tema fosse uma homenagem aos seis milhões de mortos na 2ª. Guerra. Todos concordaram com o samba-enredo “Holocausto”, que iria mostrar no sambódromo e ao mundo o que deve ser evitado a todo custo. Foram os 2os. colocados na classificação geral.