a peste
O Maharal de Praga, rabi Yehuda Loew, foi um profundo estudioso e mestre da Cabalá e do misticismo judaicos. Vários são os feitos e relatos atribuídos aos seus conhecimentos de magia. Outros sábios o consultavam para se aprofundar nos estudos do Zohar, o Livro do Esplendor.
Uma de suas façanhas mais extraordinárias foi a criação do famoso Golemde Praga, no qual ele transformou barro num humanóide gigante articulado que se movia mediante suas ordens, pronunciando diversas palavras mágicas da Cabala, em especial uma das várias formas hebraicas do nome de Deus. Esse gigante passou a defender a perseguida comunidade judaica de Praga contra os seus algozes e inimigos.
Nessa época, em Praga, grassava uma peste entre os judeus do gueto, cujas vítimas eram apenas as crianças. Os efeitos da peste eram devastadores. Orações especiais, jejuns públicos, de tudo se fez para afugentar a maldição que se abatera sobre a comunidade. Mas de nada adiantou. As mortes se sucediam diariamente.
Foi então que, numa bela noite, o Rabino Loew (lê-se como Lev) dirigiu as suas orações a Deus para que ele lhe revelasse a causa daquela tragédia. Como era comum entre os cabalistas, logo em seguida ele adormeceu e teve um sonho, no qual, mediunicamente, esperava descobrir a origem do mal que afligia a pobre comunidade judaica do gueto de Praga.
No sonho lhe apareceu o profeta Elias à meia-noite e lhe pediu que o seguisse até o cemitério, onde ele viu os espíritos das crianças se levantando dos seus túmulos. Então ele acordou, convencido de aquele sonho continha o segredo da causa da peste, embora não estivesse totalmente seguro que assim fosse.
Já era quase meia-noite quando o Rabino Loew, acompanhado de um de seus discípulos mais brilhantes, foi até o cemitério. Quando lá chegou viu os espíritos das crianças flutuarem acima de suas sepulturas e se empenharem numa dança fantasmagórica. Claro, eram fantasminhas.
O discípulo estava morrendo de medo e queria fugir de lá. Mas ficou, porque estava petrificado pelo terror. Foi aí que o Maharal de Praga notou que um dos espíritos havia deixado cair a sua mortalha em cima da lápide. Rabino Loew saiu de onde estava e recolheu a mortalha, voltando para o seu esconderijo.
Quando acabou a dança dos fantasmas, todos os espíritos voltaram para os seus túmulos. Todos menos aquele que descobriu que a sua mortalha havia desaparecido. E o espírito ficou voando de cá para lá à procura da mortalha, quando o Rabino Loew saiu de onde estava e lhe disse : Eu te devolvo a mortalha se você me disser qual é a causa da peste.” O espírito rogou ao Rabino que lhe devolvesse a mortalha, mas só o fez quando o espírito lhe revelou a causa da peste. E disse “Encontra-se vivendo, entre os judeus, um feiticeiro malvado, que invocou espíritos demoníacos que estão causando a peste.” O espírito da criança também revelou o nome do feiticeiro.
O Maharal de Praga, acompanhado de seu discípulo, seguiu diretamente para a casa do bruxo. Da janela, pelo lado de fora, viram velas acesas e o feiticeiro no interior do Pentângulo de Salomão (faz parte das práticas diabólicas).
Então o bruxo começou, através de fórmulas de magia negra a invocar os espíritos satânicos para destruir as crianças judias. O Rabino Loew, invocou uma anti feitiçaria que inverteu a conclusão daquela magia negra, voltando-se para a destruição do bruxo do mal.
E os dois viram o feiticeiro consumido pelas chamas e seu corpo desaparecer numa fumaça negra.
Naquele mesmo dia a peste acabou em Praga, graças à sabedoria do Rabino Judah Loew, o Maharal de Praga.