a máquina do tempo
Abro o Skype. “Oi vô, quando é que você vai escrever um conto de “Pessach”? Tchau.” E pronto, é tudo. Acostumei mal, deve ser isso.
Tento me inspirar. Aí me lembro que o meu computador tem um programinha maneiro, o “Exodus”, uma verdadeira máquina do tempo.
Transfiro o “Exodus” para o meu celular, que tem uma bateria biodegradável. Assim o celular passa a ter os recursos de uma máquina do tempo. Além do mais ele tira fotos e faz clipes, recebe comandos de voz, envia e recebe e-mails, toca músicas, mostra vídeos, transfere arquivos e, até pode ser usado como telefone (“vovô, você está sendo sarcástico, palavra novíssima do vocabulário do neto metido à besta”). Mas o principal recurso é essa incrivel máquina do tempo. Conecto a tal máquina do tempo e digito “Pessach”. A resposta vem imediata “Seja mais específico”. Mais específico que “Pessach”?
Digito “Moisés e Pessach”. Clico em “opções” no visor. É de dar inveja ao “Google”: 1-“Faraó e escravos”, 2-“Dez pragas”, 3-“Pessach, Matzá e Maror”, 4-“Mar Vermelho”.
Clico na opção 1-“Faraó e escravos”. A máquina do tempo responde “você vai ser transportado até o Egito, recuando 3.500 anos no tempo”. E, abaixo, na tela do celular, “Você deseja “viajar”? “Sim, Não, Cancelar”.
Meio amedrontado, clico em “Sim”. Vem a resposta “Confirma?” “Sim, Retornar”. Me arrisco. “Sim”.
Ao meu redor, centenas, milhares de homens em trajes sumários, descalços e suados, batendo brita sob o sol escaldante, e guardas de chicote batendo neles, para aumentar o ritmo do trabalho forçado. Não são prisioneiros apenas, são escravos. Ao fundo vejo uma pirâmide exuberante (será a Queops?) e outra sendo construída com essas pedras levadas a duras penas pelos escravos. Estou no Egito antigo, sem dúvida.
E, no meio daquela gente toda, um guarda me dá umas chibatadas por estar parado e imediatamente encontro uma picareta e começo a britar pedras. “Por que virei escravo, também?” me pergunto.
Tento reconhecer a lingua que falam e quem são, afinal. Digito no meu celular “quem são os escravos do Faraó?” e surge a resposta “Hebreus”. Então eu também sou hebreu. Já estou arrependido de ter me deixado transportar pela máquina do tempo. O que irá acontecer comigo? Mas não posso voltar enquanto não puder atender ao pedido dos netos. E vou tirando fotos e clipes e gravando tudo que posso.
O sol está se pondo quando os guardas mandam todos parar. E nos levam para um imenso acampamento com milhares de barracos. Vejo homens, mulheres, crianças. Ali vivem os hebreus, escravos do Faraó, e falam hebraico. Muitos dos seus hábitos e costumes são os mesmos dos egípcios que os escravizaram. Eles também sacrificam animais como oferendas a Deus. A grande diferença é que os egípcios adoram vários deuses, como o deus sol, a deusa lua, animais sagrados e muitos outros, enquanto os hebreus só têm um Deus, o da aliança com o patriarca Abraão.
Pergunto “Quem é aquele homem de barba comprida, cercado daquela gente toda ali adiante?”. “Aquele é Moisés, nosso líder e orientador, que fala diretamente com o nosso Deus e, ao seu lado, Aarão, seu irmão”.
E me contaram que o Faraó queria acabar com o povo hebreu, ordenando a morte de todos os meninos recém nascidos hebreus. Mas Miriam, irmã de Moisés, o colocou num barquinho no rio Nilo, para tentar salvá-lo. E ele foi encontrado pela filha do Faraó que o levou para o palácio real.
Revoltado com a opressão do tirânico Faraó, Moisés fugiu para juntar-se ao seu povo, e tornou-se o seu líder.
Pego novamente o celular, que acabou de dar um sinal sonoro e clico na opção 2-“Dez pragas”. Acompanho Moisés e Aarão, que se dirigem para o palácio do Faraó. Escondido, ouço a conversa deles com o Faraó: “Deus nos enviou para que o nosso povo seja libertado. Se não o fizer, nosso Deus castigará duramente todo o povo egípcio.”
O Faraó respondeu, arrogantemente , “Digam a ele - seu Deus - que não libertarei o povo hebreu. E que não tenho medo das ameaças dele, porque nossos deuses são mais poderosos.” Na volta, Moisés e Aarão relataram o que o Faraó respondera.
E Deus, então, infligiu aos egípcios dez terríveis pragas, uma atrás da outra, até que o Faraó finalmente cedesse e libertasse o povo hebreu da escravidão, que já durava mais de 400 anos, dos quais 210 anos de trabalhos forçados. E, eu presenciei, com meus próprios olhos, a aparição de cada uma dessas pragas, que não afetou nem atingiu os hebreus. E tudo foi registrado com fotos, clipes e som no meu celular.
1. As águas se transformaram em Sangue
2. Rãs espalharam-se por todo o Egito
3. O solo encheu-se de Piolhos, atormentando homens e animais
4. Feras passaram a destruir tudo que encontravam pelo caminho
5. Uma Peste fatal dizimou os animais domésticos e os “deuses”
6. A Sarna provocou bolhas nas peles de homens e animais
7. Uma tempestade de Granizo destruiu tudo que estava no solo egípcio
8. Uma nuvem de Gafanhotos devorou tudo e arruinou o Egito
9. Por seis dias uma Escuridão cobriu todo o Egito, apagando toda luz
10. Morte dos primogênitos, homens e animais, que não fossem hebreus.
2. Rãs espalharam-se por todo o Egito
3. O solo encheu-se de Piolhos, atormentando homens e animais
4. Feras passaram a destruir tudo que encontravam pelo caminho
5. Uma Peste fatal dizimou os animais domésticos e os “deuses”
6. A Sarna provocou bolhas nas peles de homens e animais
7. Uma tempestade de Granizo destruiu tudo que estava no solo egípcio
8. Uma nuvem de Gafanhotos devorou tudo e arruinou o Egito
9. Por seis dias uma Escuridão cobriu todo o Egito, apagando toda luz
10. Morte dos primogênitos, homens e animais, que não fossem hebreus.
Clico agora na opção 3-“Pessach, Matzá e Maror”.
Na noite anterior à décima praga, dia 14 de Nissan, Moisés ordenou a todos os hebreus que sacrificassem um cordeiro e que tostassem a sua carne, usando o sangue para marcar as portas de suas casas. A esse sacrifício, que marcou a nossa libertação e redenção, demos o nome de Pessach (“passagem” para a liberdade). As casas dos egípcios, que não estavam marcadas, tiveram seus primogênitos todos mortos, inclusive o filho do Faraó..
Moisés ordenou também que fossem assados pães, para serem comidos junto com os cordeiros, no dia seguinte. Esse pão, sem tempo de assar o suficiente para fermentar virou a nossa Matzá, o pão ázimo.
Além do Pessach e da Matzá, comíamos uma erva amarga, o Maror. E tudo tinha um gosto sublime, que era o gosto da liberdade.
O Faraó, depois da décima praga, apavorado, não só libertou os Hebreus, mas obrigou Moisés e Aarão a retirá-los do Egito, o mais rapidamente possível.
Uma luz pisca no meu celular avisando que a memória está toda ocupada. Tenho que descarregá-la, para poder continuar a documentar a minha viagem no tempo. Anexo tudo o que está na memória do celular e envio para o meu e-mail. Imaginem só, 3.500 anos em alguns segundos. Depois de confirmado o envio, apago tudo que está na memória. Estou com mais de 100 Gigabytes livres. Beleza.
Moisés nos apressa. Temos que abandonar imediatamente o acampamento, levar tudo o que pudermos e iniciar a saída do Egito. Nunca mais seremos escravos!!! Somos agora o “Povo de Israel”, o povo judeu, uma nação. Os escravos hebreus ficaram para trás.
Clico na opção 4.”Mar Vermelho”
Somos ao todo 600 mil homens com suas famílias, seguindo os passos do nosso líder Moisés. Depois de sete dias, chegamos às margens do Mar Vermelho. O Faraó mobilizou todos os seus exércitos para impedir que saíssemos, e veio ao nosso encalço.
E eu não acreditei no que estava vendo. As águas se abriram para nos deixar passar, e foi se fechando à medida que os exércitos egipcios com todo o seu armamento, cavalos e carros de batalha tentaram se aproximar. E os egípcios morreram todos afogados nas águas do Mar Vermelho.
Vermelho, também, o LED do meu celular piscando, acompanhado de estridente sinal sonoro de alarme. A bateria está se esgotando. No display, uma mensagem “Prepare-se para voltar ao presente”. “Preparado?“. E abaixo as opções “Sim” e “Não”. O clique me trouxe de volta.
Vocês devem estar com inveja de mim, de tudo aquilo que vivenciei.
Quem sabe quando crescerem não farão o mesmo ou até melhor?
Pessach marca a coisa mais importante na vida de uma nação, que é a sua liberdade. Todo ano, a partir da noite de 14 de Nissan , os judeus do mundo inteiro, se reúnem em torno de suas famílias, numa mesa e comemoram essa festa, realizando o Seder de Pessach.
E todo ano é recontada essa história que acabei de contar, lendo-se a Hagadá de Pessach, para que nunca esqueçamos como foi dura a vida de escravos e como Moisés, nosso líder e profeta nos libertou, através da mão forte de Deus.